Viajar para Myanmar é praticamente entrar em outra dimensão, pois o país está em processo de abertura a passos lentos e o modo de viver dos birmaneses causa curiosidade nos ocidentais. Homens vestidos de saia (Longyi), mulheres e crianças com os rostos pintados e um monte de gente olhando para você sem disfarçar, só porque você é ocidental. Me senti uma celebridade no dia que uma garota pediu para tirar uma foto comigo!
Se você quer ver templos budistas, o Sudeste Asiático é o lugar certo. E se você quer visitar templos lindíssimos sem aqueles montes de turistas por perto, vá a Myanmar. Simples assim! A única exceção é Bagan, mas são tantos templos por lá, que você não vai enfrentar fila para entrar em nenhum.
É um país muito pobre devido ao controle, por quase 50 anos, de uma junta militar, que deixou rastros de decadência altamente perceptíveis nas grandes cidades como Yangon e Mandalay, esta última, a nossa porta de saída de Myanmar.
Além dos edifícios em mau estado de conservação e de ruas esburacadas, a iluminação pública é muito deficiente. Em muitos momentos, andamos por ruas escuras durante a noite e o nosso maior receio era de meter os pés em algum buraco!
Por outro lado, é um país super seguro, de um povo muito simples e, no geral, inocente. Sabe aquela malícia que sempre estamos tentando nos blindar durante as viagens? De uma maneira geral, quase não existe lá! Ninguém quer passar a perna em você, as pessoas não são mal-intencionadas e ninguém super fatura com o turismo. Confesso que sou uma pessoa que vive pechinchando, pedindo um descontinho ali, outro aqui, mas não deu para dialogar em Myanmar. Sabe por quê? Simplesmente pelo fato de tudo ser tão barato que você chega a ficar com vergonha de pedir um desconto.
Vale lembrar, que essa era a realidade de quando estivemos no país (2014/2015) e que pode mudar com o passar dos anos. Se você ainda conseguir conhecer Myanmar dessa forma, sinta-se feliz!
Mandalay foi a despedida de Myanmar, onde meus olhos se encheram de lágrimas com o adorável guia que apareceu na nossa frente por acaso, com seu jeito submisso, fala mansa, e que fez questão de passar dias inteiros conosco cobrando valores irrisórios pelos seus serviços. Sabe o que é uma pessoa trabalhar para você durante o dia inteiro e cobrar um valor que não paga nem seu jantar? Falando nisso, ainda lembro do rapazinho que nos atendeu em um restaurante e abriu um enorme sorriso de felicidade quando demos 1 dólar de gorjeta! Isso sem falar na moça que pediu para eu comprar uns porta joias em sua mão (por 1 ou 2 dólares), pois nós éramos a última chance dela vender alguma coisa naquele fim de tarde. Comprei a caixinha e guardo até hoje com o maior carinho! Não tem como não passar a dar mais valor ao que temos quando passamos por situações como essas.
Digo sem sombra de dúvidas: nessa viagem pela Ásia, Myanmar e Camboja foram os países que mais tocaram o meu ❤️!
Mandalay é uma cidade grande, com atrações turísticas um pouco distantes umas das outras e transporte público deficiente, o que acaba levando a contratar uma pessoa para lhe transportar pela cidade.
O primeiro templo que conhecemos foi a Kuthodaw Pagoda, famosa por abrigar mais de 700 pedras com inscrições budistas, que formam o “maior livro do mundo”. Cada pedra está dentro de uma estupa branca, dispostas em corredores simétricos que formam um visual super legal.
Ao lado da Kuthodaw, está a Sandamuni Pagoda, famosa também pelas várias estupas brancas com pontas douradas e pela grande estupa dourada no centro. Tanto a Sandamuni quanto a Kuthodaw foram construídas no século XIX a mando do rei Mindon Min, o penúltimo rei de Myanmar.
Somos bem leigos quantos aos templos budistas e não vimos tanta diferença assim entre esses dois especificamente. Como são bem próximos, impossível visitar apenas um deles.
Esses dois templos estão localizados bem pertinho do Palácio Real – Mandalay Royal Palace, o último palácio real da monarquia birmanesa, fundado também pelo rei Mindon Min (o mesmo que mandou fazer as duas pagodas acima). O palácio foi residência também do último rei da Birmânia, o rei Thibaw, filho do rei Mindon Min.
O local é um enorme complexo de casas feitas de madeira com detalhes dourados nos telhados – bem aquela arquitetura típica do país. Achamos o palácio mal cuidado e sem informações para os turistas, mesmo assim vale a visita. É um lugar bonito, no entanto fica um pouco ofuscado se compararmos com as pagodas belíssimas que tínhamos visitado antes.
O mais interessante é subir na torre de observação e ter uma vista panorâmica de todas as casas do complexo. A subida cansa, mas juro que vale a pena!
Quer ver o quanto é necessário subir para se ter essa vista? Bem, vamos mostrar apenas como é descida. Sinta só a pressão!
Um grande detalhe sobre o Palácio Real é que ele está cercado por um fosso de água artificial de 70 metros de largura, completamente simétrico, com cada lado medindo exatos 2,25km. Imagine o quanto você anda para dar uma volta completa nele – quase 10km!!!
Veja no mapa abaixo sua exata localização e use o zoom aumentar ou diminuir a imagem, caso necessário:
É necessário pagar para entrar no palácio, mas você pode comprar um cartãozinho do Mandalay Archeological Zone, que custou 10.000 kyats, e que dá direito a entrar também em outros pontos como, por exemplo, o Shwenandaw Monastery. Encontrei um site com informações sobre valores de entradas em várias zonas arqueológicas no país, inclusive de Mandalay. Não sei se as informações estão atualizadas, mas compartilho aqui, pois pode ser que ajude.
Dentro do palácio a vista é muito bonita, mas fora dele a paisagem é surreal, principalmente se for no final de tarde (a primeira foto do post foi tirada do lado de fora do palácio).
Do mesmo local, temos uma vista do Mandalay Hill, um morro dentro da cidade que, em função dele, leva seu nome. No alto do morro, há pagodas e monastérios que foram pontos de peregrinação de budistas birmaneses por aproximadamente 2 séculos.
Mas não pense que basta ver o Mandalay Hill de lá de baixo! Tem que subir para ver o que tem de bom no alto da montanha. Você vai subir até ficar cansado, vai parar no meio do caminho e perguntar se vale a pena continuar, mas vá por mim: suba até o último degrau!
Você verá pessoas morando em casinhas bem simples do lado das escadarias, animais descansando pelo caminho e muitos e muitos degraus para subir. Não pode desistir, hein?
Só para se ter uma ideia, o tempo médio para subir todos os degraus é de 30 minutos! Claro que isso se a pessoa estiver em condições normais de saúde, pois, do contrário, nem consegue chegar à metade. Filmamos os primeiros momentos da subida:
Até que chega um momento onde vemos as primeiras imagens de Buda e nos damos conta de que chegamos a um dos templos (há vários templos lá no alto). Depois de uma overdose de sudeste asiático, você passa a se acostumar com as várias posições do Buda, algo que ainda não entendo exatamente o que cada uma dela representa. Mas pelo menos descobri que não existe apenas aquele Buda gordinho sentado com as mãos nas pernas, imagem mais famosa entre os brasileiros.
Como as imagens falam mais que mil palavras, deixo aqui alguns registros do que encontramos no alto do Mandalay Hill. Sabe aquele lugar que as lentes das câmeras não conseguem captar toda a beleza?
Descobriu que tem elevador na montanha, né? Deixe de preguiça e continue o percurso andando, pois o elevador é para os fracos!
Ah, só um detalhe: é obrigatório andar descalço e as mulheres devem cobrir ombros e pernas nos templos budistas. Não lembro se essa regra era aplicada em todos os templos, mas, na dúvida, eu sempre tinha algo na mochila para cobrir as partes proibidas do corpo.
Perto do Mandalay Hill, conhecemos o Shwenandaw Monastery, um monastério budista completamente diferente dos outros que visitamos, por causa do trabalho feito em madeira, que adorna todo o ambiente, desde paredes, portas e telhado.
São várias esculturas budistas esculpidas na madeira e que realmente fazem toda a diferença! Visitando este local, você terá a oportunidade de ver algo realmente singular. Esse monastério também foi construído pelo último rei da Birmânia. Na verdade, praticamente todos os pontos turísticos de Mandalay foram feitos nos reinados dos últimos monarcas birmaneses.
Por ser um lugar sagrado, também devemos entrar descalços e com roupas apropriadas. Existe até um local dentro do monastério onde as mulheres não podem entrar. É justo isso?? rss
A visita é paga, mas lembra daquele cartão do Mandalay Archeological Zone? Você usa ele também para entrar no monastério, basta apresentá-lo e o pessoal da bilheteria irá carimbar na parte de trás. Ou então você compra o cartão no monastério e utiliza para a entrada no Royal Palace.
Outro local sagrado, que fica a pouquíssimos metros desse monastério de madeira, é o Atumashi Monastery, também construído pelo rei Mindon Min e que foi destruído pelo fogo em 1890, sendo reconstruído na década de 90 mediante o trabalho de presidiários. Basta saber se esses presidiários foram pessoas que cometeram crimes ou aqueles que eram contra o rígido governo comandado pelos militares.
Outro templo que visitamos e que foi uma grande surpresa foi o Mahamuni Buddha Temple, um dos maiores locais de peregrinação do país. A grande a atração desse local é o Mahamuni Buddha, uma estátua do Buda alojada dentro de uma câmara onde só homens entram. Novamente fui excluída da parada!
Mas até mesmo os homens precisam estar vestidos apropriadamente para chegar perto do Buda. Isso quer dizer que eles devem estar com as pernas cobertas (ou seja, se não forem sair de calça, que levem uma na mochila).
Dentro da câmara, os fiéis colam folhas de ouro bem finas no corpo do Buda, que por este motivo já está bem gordinho!
Como não pode tirar foto nem filmar dentro da câmara, utilizamos o zoom para mostrar como é o local:
Já perceberam que há vários locais proibidos para a mulherada, hein? Por isso, rapazes, não percam a oportunidade de ver o que foi reservado somente a vocês!
Faz muito calor em Myanmar e é muito complicado ficar andando para cima e pra baixo todo coberto, mas, para não perder boas oportunidades, recomendamos que sempre ande com uma mochila com roupas apropriadas para visitar os lugares sagrados – camisas de manga (a manga pode ser curta) e calças.
Falando em ouro, o nosso guia nos levou para conhecer o King Galon Gold Leaf Workshop, que é uma oficina onde as pessoas trabalham com folha de ouro, tão popular no país. Nem sabíamos da existência dessa oficina e só paramos por lá por causa do guia, que perguntou se tínhamos interesse em conhecer.
Vimos homens fazendo o trabalho mais pesado com blocos de ouro e as mulheres na parte de confecção da folhas e de objetos destinados para a venda.
Não são produtos baratos para o padão Myanmar, no entanto, há objetos com valores acessíveis. Compramos uma pequena estátua de coruja folheada a ouro de lembrança!
Para fechar a visita em Myanmar com chave de ouro, fomos assistir a apresentação do grupo The Moustache Brothers, um trio de comediantes, que hoje se resume em uma dupla, por causa do falecimento de um deles. O show é uma mistura estranha de piadas, danças birmanesas e uma forte crítica ao regime totalitário birmanês.
Na época em que a junta militar controlava o país com mãos de ferro, um dos irmão foi condenado à pena de trabalhos forçados por ter criticado o governo em uma de suas apresentações.
Apesar de os irmãos serem o centro das atrações, a família toda trabalha junto, incluindo esposas, sobrinhos, primos e a netinha de um deles. A apresentação parece de circos antigos, com performances que beiram à bizarrice e que não conseguimos imaginar nada igual no mundo.
E eles são famosos mundialmente, tanto que todas as noites o pequeno espaço lota de turistas (na maioria europeus). E se você nunca ouviu falar deles, essa grande atração é recomendada pelo Lonely Planet, um dos guias de viagens mais respeitados do mundo! Uma das integrantes da família, que é casada com um dos artistas principal (o bigodudo), já foi capa do guia da famosa editora, algo que eles mostram com orgulho para a plateia.
O show custou em torno de U$ 10 e só vale a pena assistir se você souber inglês.
E assim terminamos os passeios por esse belo país, um dos que mais deixou saudades da viagem que fizemos durante 37 dias pelo sudeste asiático e que recomendamos para qualquer turista.
Veja também:
➡️ Como tirar o visto de turismo online para Myanmar
➡️ Yangon: a nossa porta de entrada em Myanmar
➡️ Bagan: a cidade de mais de 2 mil templos
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Gabriela, boa noite! Vc teria alguma forma de contato com seu guia em Mandaley? Estaremos lá dia 27/04 e gostariamos de ter a sorte de também te-lo como guia. Muito obrigada, ANa Teresa.
Olá, Ana! Tudo bem? Estamos na Tailândia agora e não acessei o blog nos últimos dias. Por isso demorei para responder. Chego no Brasil antes de você chegar a Mandalay. Vou procurar o cartão dele para te passar o contato, ok?
Beijos
Oi, Gabriela, tudo bem? Gostaria de pegar o contato do guia também. Poderia me passar, por gentileza.
Olá, Carlos! Tudo bem?
Você poderia enviar um email para: [email protected] ?
Estou com a foto do cartão dele, mas está tudo escrito em birmanês com os números dos telefones. Daí posso te passar a foto do cartão 😉
Abraços
Gabriela tudo bom? Onde você indica pra ficar hospedado em janeiro?
Muito bom seu blog, já fiz algumas viagem seguindo as dicas de vocês…
Olá, Fabio! Tudo bem?
Não temos muitas recomendações de hotéis em Mandalay.
Nós ficamos em um bem simples, chamado Victory Point, que era bem razoável e com valor muito acessível. A localização dele também era bem central.
Abraços 😉
Gabriela . Boa tarde! Você recebeu minha pergunta sobre Mandalay?
Boa tarde, Adolfo! Tudo bem?
Sim, recebi a sua pergunta e respondi no seu comentário abaixo.
Precisando de mais informações, ajudaremos no que pudermos.
Abraços
Gabriela.Bom dia!Procuro há tempos pelas folhas de ouro ( oferenda ao Buda) que são vendidas em Mandalay. Vejo que conheceu a fábrica . Você tem algum endereço eletrônico ( e-mail ou site ) deste local ?Ficaria muito feliz se me orientasse, Obrigado pela atenção,
Bom dia!
Procurei agora na internet e não encontrei nada. Myanmar ainda sofre com boicotes e conseguir internet lá não é muito fácil. Quando conseguimos, a conexão é muito ruim. Acredito que esse seja o motivo dos empreendimentos não terem sites.
Abraços
oi Gabriela… que viagem bacana! É sempre muito interessante conhecer culturas diferentes da nossa, não é mesmo? Nos dá outra perspectiva do que temos e de quem somos. As fotos estão lindas, especialmente as do fim do dia.
bj
Ana
Olá, Ana! Quanto mais distante a cultura, mais eu me interesso.
Realmente mudamos muito a nossa noção de mundo 😉
Beijos
Ultimamente tenho visto muita informação sobre esse país, já cheguei a pensar que era um sinal para o visitar!
O ideal é visitar Myanmar assim que puder, pois mudará muito com a abertura econômica.
Amei o país!
Gabiiii,
Eu que sonhava em conhecer Myanmar, fiquei com mais vontade ainda! =D
Excelente post! Adorei! Cheio de emoção!
Sensacional!
Oiiii!!! Escrever sobre Myanmar mexe com os meus sentimentos ❤️
Obrigada pela mensagem 😉
Olá Gabriela,
Espero que siga bem.
Este lugar é único e fica mais especial com um post desta qualidade.
Gostei muito do seu estilo e por isso gostaria de saber se você tem interesse em
fazer uma parceria onde eu possa demandar um guest post para veicular no blog
da nosssa empresa?
Marcos Araujo
Diretor comercial da Embark Viagens
Olá, Marcos! Tudo bem?
Muito obrigada pela mensagem 😉
Você poderia mandar um email para: [email protected] ?
Abraços